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Em busca de um perdão

Texto escrito pelo Dr. Camargo, EM BUSCA DE UM PERDÃO, no Caderno Vida, da Zero Hora de sábado – 27 de abril:

É mpossível não ser atingido pelos estilhaços de alguns pacientes que partem, às vezes desastradamente, deixando fragmentos de história que não conseguem recontar a vida deles. Ainda mais quando o médico não foi mais do que uma testemunha acidental do desfecho não programado de um desconhecido que, por indecifráveis razões do destino, foi dado morrer em sua companhia.

As emergências dos grandes hospitais, que recebem pessoas de todos os tipos e em todas as condições, algumas vezes nos impõem essas inusitadas parcerias. E com direito a confidências pungentes e promessas desesperadas, o que denuncia a grande tragédia de se morrer sozinho, sem ter para lhe segurar a mão alguém que tenha um motivo, por tênue que seja, para lamentar a sua morte.

Solitários num momento definitivo, riscados do mundo. E assim eles se vão, como uma borracha que se apaga a si mesma.

O boné sujo, de uma malha leve, devia ser um companheiro antigo e das quatro estações, e não conseguia conter a cabeleira desgrenhada que escapava por todos os lados. Quando entrou na emergência da antiga Santa Casa dos indigentes, banhado de suor, foi reconhecido pela atendente como o viciado que vinha todas as noites, queixando-se de uma dor que ninguém acreditava, e implorando por morfina.

Não tinha documentos, a cada visita anunciava um nome diferente, e naquela noite tinha decidido ser o Mario.

Inexperiente e angustiado por não saber o que fazer, lhe perguntei: “Mario, me diga, onde é a dor”, e ele, pouco familiarizado com o nome novo, respondeu: “Quem, eu?”

Assim ficava difícil, mas não desisti, e logo passei a acreditar, quando percebi que o pulso estava muito acelerado e que ele se contorcia na maca e suava cada vez mais. Aquela dor parecia verdadeira, e ficou claro que só conseguiríamos conversar se ela fosse levada a sério.

Uma ampola de morfina mais tarde, fizemos uma radiografia que mostrou um grande tumor que ocupava a maior parte do pulmão esquerdo e lhe invadia as costelas. Não era necessário ser especialista para perceber que ele estava morrendo.

Depois de retiramos uma amostra de sangue para medir a oxigenação, fiquei comprimindo o local da punção e ele, aliviado do sofrimento atroz, choramingou: “Tenho muito medo de morrer!”

Quando lhe ofereci a mão livre, ele a segurou com as suas e fez um pedido que nunca consegui cumprir e que ficou por muito tempo grudado na lembrança como um adesivo inconveniente: “Diga ao meu pai, quando ele vier me buscar, que eu gosto dele e que me arrependi muito do que lhe disse na última vez que brigamos.”

Querendo consolá-lo, garanti que os pais sempre perdoam os filhos, e que era certo que ele até já devia ter esquecido. E ele discordou: “Acho que não, porque já faz 20 anos que ele me disse: hoje morremos um para o outro!”

Passado muito tempo, ainda lembro do desconsolo no seu olhar de moribundo. Ele morreu tentando apenas ser perdoado e ninguém veio resgatá-lo.

É sabido que o ódio entre os que se deveriam amar é sempre mais intenso e duradouro. Mas, mesmo assim, devia ter prazo de validade.

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J.J. Camargo é cirurgião torácico e chefe do Setor de Transplantes da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.

Sentimento das Crianças

Texto extraído do livro: Ostra feliz não faz pérola / Rubem Alves – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008.

Janucz Korczak: “Vocês dizem: ‘Cansa-nos ter de privar com crianças’. Têm razão. Vocês dizem ainda: ‘Cansa-nos porque precisamos descer ao seu nível de compreensão’. Descer, rebaixar, inclinar-se, ficar curvado. Estão equivocados. Não é isto o que nos cansa, e sim o fato de termos de elevar-nos até alcançar o nível de sentimentos das crianças. Elevar-nos, subir, ficar na ponta dos pés, estender a mão. Para não machucá-las.” (Do livro Janucz Korczak, Edusp,1998)

Texto extraído do livro: Ostra feliz não faz pérola / Rubem Alves – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008.

Solidão

Texto extraído do BLOG Café Brasil de Luciano Pires: http://www.podcastcafebrasil.com.br/podcasts/346-a-solidao-do-chorao

Quem eu vi falar mais legal desse tema, solidão, foi um psicanalista inglês já morto: Donald Winnicott. Ele descreveu o crescimento emocional como o desenvolvimento paulatino da nossa capacidade de estar só.

Quanto mais amadurecemos emocionalmente, menos dependemos dos outros para nos sentirmos queridos e seguros, e mais apreciamos a saudável convivência com nós mesmos.

Para que isso seja possível, contudo, precisamos de alguém muito especial na fase da vida em que estamos mais dependentes e vulneráveis, alguém que nos permita estar no nosso próprio mundo em sua presença. Durante a tenra infância, algum adulto querido deve estar suficientemente presente para nos dar segurança e suficientemente ausente para não ser invasivo, que é o que nos permite cultivar o senso de individualidade, independência e confiança em si mesmo e no mundo.

O protótipo disso é a mãe ou o pai que apenas está junto, sem interferir nem se ausentar, enquanto o filho ou a filha brincam despreocupadamente. A criança sabe que o adulto protetor está lá, e só isso é muito bom. Para não nos sentirmos solitários ao longo da vida crescida, é necessário que interiorizemos este adulto protetor e não invasivo – precisamos aprender a carregar dentro de nós este senso de presença confiável porém discreta.

Texto extraído do BLOG Café Brasil de Luciano Pires: http://www.podcastcafebrasil.com.br/podcasts/346-a-solidao-do-chorao

Fim dos Vestibulares

Texto extraído do livro: Ostra feliz não faz pérola / Rubem Alves – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008.

Desejos

Quero viver muitos anos mais. Mas com alegria. Quero ter forças para travar as batalhas que julgo importantes! A preservação da Amazônia! Viver com mais sabedoria! Entre a multidão dos meus desejos paira a educação, elejo como minha prioridade acabar com os vestibulares. Os vestibulares são, a meu ver, a coisa mais estúpida que estraga a educação.
Não me importam os vestibulares como processo seletivo para a entrada nas universidades. Importuna-me o que eles fazem com todo o processo escolar que os antecede. Em primeiro lugar, eles são inúteis. Os supostos saberes exigidos para os malditos exames estão condenados ao esquecimento. Eu não passaria nos vestibulares, nossos reitores não passariam nos vestibulares, os professores de cursinhos não passariam nos vestibulares. Os especialistas em português tombariam diante dos problemas de física e química. Os professores de física e química tombariam diante das questões de análise sintática. Memória ruim? Não. Memória inteligente. A memória inteligente sabe esquecer o que não faz sentido. E a desgraça é que as escolas, desde o seu início, vivem sob a sombra do grande bicho-papão. Quem determina os saberes a serem sabidos são os professores que preparam as questões para os exames. E, então, as questões fundamentais da educação, da formação humana dos alunos, são enviadas para o porão. O prazer da leitura? Quem pensará que leitura dá prazer quando ela é obrigatória? Não existe forma mais rápida de fazer um aluno detestar a leitura que fazer dela um dever de que se terá de prestar contas.

A apreciação da música, a educação dos sentidos, a curiosidade vagabunda… Tudo é deixado de fora. Tanto sofrimento para nada – porque tudo é esquecido. Além de inúteis são perniciosos, porque criam hábitos mentais tortas. Para cada pergunta há uma resposta carreta! Mas na vida não é assim. Nem na ciência. A ciência se faz com uma infinidade de erros. Sem os vestibulares, as escolas estariam livres para realmente educar.

Quero o fim dos vestibulares. Mas que processo os substituiria? Minha sugestão: um sorteio… Loucura? Parece, mas náo é.

Texto extraído do livro: Ostra feliz não faz pérola / Rubem Alves – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008.

Para educar um filho

Texto extraído do livro: Ostra feliz não faz pérola / Rubem Alves – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008.

Em uma sessão de terapia: “Não tenho tempo para educar a minha filha”, ela disse. Um psicanalista ortodoxo tornaria essa deixa como um caminho para a exploração do inconsciente da cliente. Ali estava um fio solto no tecido da ansiedade materna. Era só puxar o fio… Culpa, ansiedade e culpa nos levariam para os sinistros subterrâneos da alma. Mas eu nunca fui ortodoxo. Sempre caminhei ao contrário na religião, na psicanálise, na universidade, na política, o que me tem valido não poucas complicações. O fato é que eu tenho um lado bruto, igual àquele do Analista de Bagé. Não puxei o fio sólio dela. Ofereci-lhe meu próprio fio. “Eu nunca eduquei os meus filhos…”, eu disse. Ela fez uma pausa perplexa. Deve ter pensado: “Mas que psicanalista é esse que não educa os seus filhos?”. “Nunca educou os seus filhos?”, perguntou. Respondi: “Não, nunca. Eu só vivi com eles”. Essa memória antiga saiu da sua sombra quando uma jornalista, que preparava um artigo dirigido aos pais, me
perguntou: “Que conselho o senhor daria aos pais?”. Respondi: “Nenhum. Não dou conselhos. Apenas diria: a infância é muito curta. Muito mais cedo do que se imagina os filhos crescerão e baterão as asas. Já não nos darão ouvidos. Já não serão nossos. No curto tempo da infância há apenas uma coisa a ser feita: viver com eles, viver gostoso com eles. Sem currículo. A vida é o currículo. Vivendo juntos, pais e filhos aprendem. A coisa mais importante a ser aprendida nada tem a ver com informações.”
Conheço pessoas bem informadas que são idiotas perfeitos. O que se ensina é o espaço manso e curioso que é criado pela relação lúdica entre pais e filhos. Ensina-se um mundo! Vi, numa manhã de sábado, num
parquinho, uma cena triste: um pai levara o filho para brincar. Com a mão esquerda empurrava o balanço. Com a mão direita segurava o jornal que estava lendo… Em poucos anos, sua mão esquerda estará vazia. Em compensação, ele terá duas mãos para segurar o jornal.

Texto extraído do livro: Ostra feliz não faz pérola / Rubem Alves – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008.

Hábito da Leitura

Texto extraído do livro: Ostra feliz não faz pérola / Rubem Alves – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008.

Perguntam-me: o que fazer para criar o hábito da leitura? Respondo: “Nada. Não se deve criar o hábito da leitura. Hábito tem a ver com cortar as unhas, tomar banho… Os hábitos produzem açôes automáticas.
Um homem pode ter o hábito de dar um beijinho na mulher ao sair de casa estando com o pensamento muito longe dela. O que há de se fazer é ensinar as crianças a amar os livros…”.

Texto extraído do livro: Ostra feliz não faz pérola / Rubem Alves – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008.

Como elogiar alguém

Texto extraído do livro: Ostra feliz não faz pérola / Rubem Alves – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008 – Página 26.

Conselho ao Nelson Freire

Caro Nelson Freire: Ao terminar de ouvir os dois concertos de Brahms interpretados por você, lembrei-me de um incidente que poderá lhe ser de grande valia. Bernard Shaw foi ouvir Jascha Heifetz. Chegando em casa, depois do concerto, escreveu-lhe uma carta imediatamente. O conteúdo era mais ou menos assim: “Prezado senhor Jascha Heifetz. Ouvi-o no concerto desta noite. Voltei para casa profundamente preocupado. Porque tocando do jeito como o senhor toca é impossível que os deuses não se roam de ciúme – porque é certo que eles não conseguem tocar como o senhor. Eles sentirão inveja. E deuses invejosos são perigosos. Assim, dou-lhe um conselho. De noite, antes de dormir, não faça suas orações costumeiras. Pegue o seu violino e toque desafinado. Os deuses, ao ouvi-lo, se sentirão aliviados na sua inveja e deixarão o senhor em paz. Atenciosamente, George Bernard Shaw”. Nelson, faço meu o conselho de Shaw. Sozinho, de noite, em vez de rezar, toque mal, esbarre algumas notas, erre… Nenhum crítico o estará ouvindo. Mas os deuses estarão. E eles dormirão em paz e você dormirá em paz. Conselho do seu conterrâneo Rubem Alves.

Texto extraído do livro: Ostra feliz não faz pérola / Rubem Alves – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008 – Página 26.

O múltiplo e o simples

Texto extraído do livro: Ostra feliz não faz pérola / Rubem Alves – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008 – Página 48.

O Tao-Te-Ching, livro sagrado do taoísmo, Já dizia há mais de um milênio que temos dois lados. Há um lado que olha para fora. Olhando para fora defrontamo-nos com o mundo da multiplicidade, 10 mil coisas que se impõem aos nossos sentidos, nos dão ordens, nos atropelam, e nos enrolam aos trambolhôes, como aquelas ondas de praias de tombo. Mas há um outro lado que olha para dentro. Aí nos defrontamos com uma única coisa, o desejo mais profundo do nosso coração, aquela coisa que, se a tivéssemos, nos traria alegria. Jesus contou a parábola de um homem que tinha muitas jóias e que, ao encontrar uma única pérola maravilhosa, vendeu as muitas para comprar uma única. No primeiro lado mora o conhecimento, a ciência, a bolsa de valores, a cotação do dólar, as coisas que se podem comprar, e todas as coisas que compõem a nossa vida de fora. Essas coisas são “meios para se viver” ~ ferramentas que podemos usar. No segundo lado mora a sabedoria, que é a capacidade para discernir as coisas que valem a pena. Num bufê, você encheria o seu prato com tudo o que está na mesa? Somente um tolo faria isso. Você consultaria o seu desejo: “De tudo isso que está à minha frente, o que é que realmente desejo comer?”. Tolos são aqueles que, seduzidos pela multiplicidade, se entregam vorazmente a ela. Eles acabam tendo uma terrível indigestáo. Sábios são aqueles que, da multiplicidade, escolhem o essencial. Simplicidade é isso: escolher o essencial.

Texto extraído do livro: Ostra feliz não faz pérola / Rubem Alves – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008 – Página 48.

Saber ouvir de verdade é…

Texto extraído do livro: Ostra feliz não faz pérola / Rubem Alves – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008 – Página 47.

Sobre o Ouvir

O ato de ouvir exige humildade de quem ouve. E a humildade está nisso: saber, não com a cabeça mas com o coração, que é possível que o outro veja mundos que nós não vemos. Mas isso, admitir que o outro vê coisas que nós não vemos, implica reconhecer que somos meio cegos… Vemos pouco, vemos torto, vemos errado.

Bernardo Soares diz que aquilo que vemos é aquilo que somos. Assim, para sair do círculo fechado de nós mesmos, em que só vemos nosso próprio rosto refletido nas coisas, é preciso que nos coloquemos fora de nós mesmos. Não somos o umbigo do mundo. E isso é muito difícil: reconhecer que não somos o umbigo do mundo! Para se ouvir de verdade, isso é, para nos colocarmos dentro do mundo do outro, é preciso colocar entre parêntesis, ainda que provisoriamente, as nossas opiniões.

Minhas opiniões! Ê claro que eu acredito que as minhas opiniões são a expressão da verdade. Se eu não acreditasse na verdade daquilo que penso, trocaria meus pensamentos por outros. E se falo é para fazer com que aquele que me ouve acredite em mim, troque os seus pensamentos pêlos meus. É norma de boa educação ficar em silêncio enquanto o outro fala. Mas esse silêncio não é verdadeiro. É apenas um tempo de espera: estou esperando que ele termine de falar para que eu, então, diga a verdade. A prova disto está no seguinte: se levo a sério o que o outro está dizendo, que é diferente do que penso, depois de terminada a sua fala eu ficaria em silêncio, para ruminar aquilo que ele disse, que me é estranho. Mas isso jamais acontece. A resposta vem sempre rápida e imediata. A resposta rápida quer dizer: “Náo preciso ouvi-lo. Basta que eu me ouça a mim mesmo.

Não vou perder tempo ruminando o que você disse. Aquilo que você disse não é o que eu diria, portanto está errado… .

Texto extraído do livro: Ostra feliz não faz pérola / Rubem Alves – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008 – Página 47.

Patos selvagens

Texto extraído do livro: Ostra feliz não faz pérola / Rubem Alves – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008 – Página 37.

Era uma vez um bando de patos selvagens que voava nas alturas. Lá em cima era o vento, o frio, os horizontes sem fim, as madrugadas e os poentes coloridos. Tudo tão bonito! Mas era uma beleza que doía. O cansaço do bater das asas, o não ter casa fixa, o estar sempre voando e as espingardas dos caçadores… Foi então que um dos patos selvagens, olhando lá das alturas para a terra aqui embaixo viu um bando de patos domésticos. Eram muitos. Estavam tranquilamente deitados à sombra de uma árvore. Não precisavam voar. Não havia caçadores. Não precisavam buscar o que comer: o seu dono lhes dava milho diariamente. E o pato selvagem invejou os patos domésticos e resolveu Juntar-se a eles. Disse adeus aos seus companheiros, baixou seu voo e passou a viver a vida mansa que pedira a Deus. E assim viveu por muitos anos. Até que… Até que, num ano como os outros chegou de novo o tempo da migração dos patos. Eles passavam nas alturas, no fundo do azul do céu, grasnando, um grupo após o outro. Aquelas visões dos patos em voo,as memórias de alturas, aqueles grasnados de outros tempos começaram a mexer com algum lugar esquecido dentro do pato domesticado, o lugar chamado saudade. Uma nostalgia pela vida selvagem, pelas belezas que só se vêem nas alturas, pelo fascínio do perigo… Até que não foi mais possível aguentar a saudade. Resolveu voltar a ser o pato selvagem que fora. Abriu suas asas, bateu-as para voar, como outrora… mas não voou. Caiu. Esborrachou-se no chão. Estava gordo demais. E assim passou o resto de sua vida: em segurança, gordo de barriga cheia, protegido pelas cercas e triste por não poder voar…

Texto extraído do livro: Ostra feliz não faz pérola / Rubem Alves – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008 – Página 37.